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A primeira Feira de que há notícia na parte ocidental da Península Ibérica remonta ao séc. XII, mais propriamente a 1125 e decorreu em Ponte de Lima, sendo que a primeira, já após a formação de Portugal como Reino independente (de Castela), realizou-se em Castelo Mendo, emn1229.

Não será muito difícil ao caro leitor imaginar os problemas que então se colocavam para se proceder à distribuição dos produtos se tal ainda hoje é para nós uma preocupação.
No nosso concelho existem vários produtos que poderiam, se o país fosse dotado das convenientes estruturas, serem rapidamente escoados e colocados nos grandes centros.
Surgiam assim as “covas de ter pão” lugar onde, ao lado dos celeiros, se guardavam os cereais.

E essa preocupação atravessava todas as classes sociais, os oradores, defensores e mantenedores, trilogia que corresponde à tradicional, mas ultrapassada, porque não verdadeira, divisão da sociedade em clero, nobreza e povo, existindo, desta feita, celeiros régios, celeiros senhoriais, celeiros concelhios e, nas casas mais abastadas, celeiros particulares.

Importava, pois, armazenar para depois os produtos seguirem para os aglomerados populacionais onde eram postos à venda nos mercados e nas feiras.Pelo caminho eram sujeitos a várias tributações, posto que passavam por terras de muitos senhores para além de outras particularidades tais como o “relego” (durante um determinado período o vinho dos particulares não podia ser vendido enquanto houvesse vinho do rei para ser vendido).

A institucionalização das feiras veio favorecer o processo de distribuição interna dos produtos, cobrindo, a partir do século XII, praticamente todo o território, existindo já feiras francas que, pela ausência de impostos, traduziam-se em vantagens para os compradores e vendedores.

Porém, não se pense que apenas nas feiras ou mercados se podiam comprar produtos.
Já naquela altura muitos mercadores iam, de terra em terra, vendendo os seus artigos.
Não consigo resistir à recordação do meu avô, o tio Manuel Peneiras, de Carvalho com a sua mula, a Carriça, percorrendo tantas aldeias da nossa “Serras da Pampilhosa” vendendo cobertores e alguns produtos de mercearia, para além da sua mestria de capador de porcos.

D. Afonso III é o rei responsável por uma nova fase ao outorgar Cartas de Sesmo.
A Sesmaria era um dever do Senhor ou de um concelho, de dividir a terra em regime de Sesmaria, isto é, cada terra devia ser explorada economicamente por um homem que se comprometia a agricultar a terra num determinado prazo e mediante o pagamento de um foro, uma renda.

Não era uma forma de propriedade mas uma apropriação de terras; é usufruto.
O seu dono não abdicava da propriedade da terra.

A palavra Sesmaria vem de sexímus, de seis, a sexta parte da produção.
Com D. Afonso III ao lado das Cartas supra aludidas surge uma política de escambo, ou seja, trocas.Não falamos de comércio porque não há moeda.
Essa política levou ao incremento de encontros entre produtores e consumidores, às Cartas de Feira.

Para além de favorecer a troca de produtos, as feiras davam ao Rei mecanismos de financiamento através da cobrança de portagens e peonagens.
Vem isto a propósito da Semana de Divulgação que a Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra leva a efeito na Feira Popular, em Lisboa, na semana de 31 de Maio a 06 de Junho.
No fundo, o espírito de uma Feira é a ideia de troca entre o campo e a cidade, e essa característica pode ser encontrada neste evento.

Trata-se de dar seguimento à iniciativa começada no ano transacto a que a Casa do Concelho este ano, como naquele, dá todo o apoio, em especial através da presença constante do seu Rancho Folclórico, pro- curando-se dar aos alfacinhas e a todos quantos visitarem a Feira Popular uma noção da realidade do nosso concelho através de uma amostragem, ainda que sumária, das nossas potencialidades.

E bem aposta a Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra ao levar por diante este projecto.
Na verdade, Pampilhosa da Serra é um concelho muito pouco conhecido da maioria dos portugueses, dele não possuindo uma verdadeira noção das potencialidades ali existentes.
O Turismo é, estamos certos, o vector fundamental em que o desenvolvimento de Pampilhosa da Serra pode assentar e, atendendo às nossas vicissitudes geográficas, talvez mesmo o único que ainda possa criar alguma riqueza – isto é, postos de trabalho e meios de subsistência para aqueles que (sortudos) ainda vivem no nosso concelho.
Mas não é tarefa fácil.

Desde logo por dificuldades de acesso.
Naturalmente que houve progressos, sobretudo, para quem vive a sul através da construção do IC, mas estamos longe de atingir um grau médio de satisfação das nossas necessidades.

Por outro lado, também no interior do nosso concelho existem carências gritantes e mesmo situações que só com muita dificuldade se entendem e que traduziram situações de incompreensível injustiça para com as populações locais, como é o exemplo dos acessos ao “Alto do Concelho” que, felizmente, e ao que tudo indica, está em vésperas de ser resolvido.

Com os acessos melhorados e com uma política de interligação entre todos os interessados, Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, Direcção Regional do Turismo da Região Centro, Secretaria Regional da Juventude, Ligas e Comissões de Melhoramentos estão reunidas as condições para assistirmos a um arranque do Turismo na nossa região.
Mas também os investidores locais têm de dar o seu contributo com o melhoramento das várias unidades hoteleiras do concelho, mormente atendendo os clientes com cordialidade e simpatia, e apetrechando as suas unidades com condições.

Se instituição há que se tem preocupado com esta realidade e aperfeiçoamento é a Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, desempenhado um papel de enorme relevo e nem sempre devidamente salientado.
Através de vários cursos de formação profissional, a Santa Casa tem proporcionado a muitos dos habitantes do nosso concelho a possibilidade de se habilitarem a vários cursos, nomeadamente ligados ao ramo hoteleiro, como chefes de cozinha, pasteleiros, cozinheiros.

Por outro lado, também outras instituições, como a Câmara Municipal têm feito iniciativas no mesmo sentido, dando qualificação profissional, através de cursos de pintura, tecelagem, etc.
Importa, porém, dar-se seguimento a esses cursos, cabendo aqui um papel decisivo à iniciativa privada.

As preocupações dos responsáveis governamentais e outros não pode apenas incidir sobre os “desprotegidos” socialmente.
Naturalmente que estes merecem a nossa especial atenção, sendo de louvar todas as iniciativas que os façam afastar-se de um quadro de situações endógenas e exógenas desfavoráveis, mas aos que possuem condições humanas, mas não económicas para poderem participar, com relevo, na vida económica do concelho, pondo em prática todos os ensinamentos ministrados, também devem ser criadas condições de afirmação.
Não somos apenas um concelho de desinserção social.
As conversa são como as cerejas”.

Era nosso propósito falarmos sobre a Semana de Divulgação do concelho de Pampilhosa da Serra em Lisboa e projectámos a conversa para limites temporais afastadíssimos.
Começámos por ocorrências de oitocentos anos atrás e terminámos com realidades futuras que seria bom que demorassem bem menos.
Entretanto, e para o concelho, um conselho, divulgue-o.

João Ramos

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